Como Ser Original (quando todos são cópias vazias)
Um livro chamado Crave, de Tracy Wolff, estreou em abril de 2020. Em menos de um ano já tinha vendido quase 400 mil cópias só com os três primeiros volumes.
O alcance cresceu rápido. Até 2024, a série já havia ultrapassado 3,5 milhões de cópias vendidas no mundo. Pouco depois, a Universal comprou os direitos para adaptação ao cinema.
Mas junto com o sucesso veio a polêmica. Tracy Wolff foi processada por suposto plágio. A acusação veio de Lynne Freeman, uma escritora ainda não publicada, que alegou semelhanças demais com sua obra inédita: cenário no Alasca, protagonista órfã, elementos sobrenaturais, até cenas sob a aurora boreal.
Essa história expõe um dilema de todo criador: onde termina a inspiração e começa a cópia?
No Brasil vemos isso direto: canais que só replicam vídeos gringos, músicas que soam como outras, estilos reciclados sem filtro.
Tudo é cópia? Nada é original?
Ou será que a originalidade está em transformar o que já existe em algo que só poderia ter saído de você?
“A maioria das pessoas vive como se fosse outra. Seus pensamentos são opiniões emprestadas, suas vidas uma cópia, suas paixões apenas citações.” — Oscar Wilde
O PRODUTO DO AMBIENTE
Até seus 18 anos você é produto do ambiente onde nasceu e cresceu.
Se é homem, aprendeu com seu tio que para ser de verdade precisava tomar cerveja e passar a vida toda “pegando mulheres”. Se é mulher, aprendeu que “precisa casar cedo para ser valorizada” e que “tem que estar sempre bonita e magra para ser aceita”.
Eu nasci e cresci numa cidade medíocre. Ser bom lá era ter um carro rebaixado, ir para a praça nos fins de semana e ficar esperando a vida passar.
As crenças da minha família sobre dinheiro, propósito e vida me sugaram até os 18 anos. Eu carregava falas, políticos, costumes e comportamentos deles até a morte.
Acreditava que ricos eram exploradores. Que precisava de um bom salário para viver. “Vá à faculdade, faça boas amizades, assista futebol, tire boas notas, que você vai se dar bem na vida, Henrique.”
Isso tomou conta de mim sem eu perceber — pelo viés de adesão, o efeito bandwagon: adotar um comportamento ou ideia só porque muitos fazem o mesmo.
Nietzsche já criticava isso há mais de um século. Para ele, a maioria não pensa por si. Apenas repete ideias, coleciona frases de efeito, acumula livros sem nunca transformar isso em pensamento vivo.
O PROBLEMA DO COLETIVISMO
O coletivismo nasceu como instinto de sobrevivência.
Nos primeiros grupos humanos, pensar como o grupo aumentava proteção, comida e continuidade. Isso se reforçou com religiões, impérios e Estados, que colocaram o “todo” acima do indivíduo para manter ordem e controle.
Mas o que protege também aprisiona. O coletivismo, levado ao extremo, sufoca a autonomia. Você deixa de pensar por si e passa a viver pelas ideias da massa.
Foi assim que regimes totalitários cresceram: explorando o medo de se opor ao coletivo.
Até hoje é assim. Quando causas coletivas reduzem o ser humano a uma etiqueta, você tira dele a individualidade e coloca-o numa caixa. Isso cria alienados. Defendem políticos de estimação, causas prontas, sem pensar por si mesmos.
A DESTRUIÇÃO DA LIBERDADE
A psicologia social mostrou isso na prática.
O Experimento de Asch provou que muitos preferem mentir contra os próprios olhos só para não discordar da maioria.
O Experimento de Milgram foi ainda mais brutal. Voluntários aplicavam choques (falsos) em um ator toda vez que ele errava. Os choques aumentavam até níveis letais. A maioria continuava quando uma autoridade mandava, mesmo ouvindo gritos de tortura.
Sob pressão do coletivo ou da autoridade, a maioria abdica da consciência. Preferem obedecer a carregar responsabilidade.
Assim identidades são destruídas: quando você deixa de pensar por si e vive segundo crenças herdadas, normas sociais ou ordens externas.
Do rebanho primitivo aos regimes totalitários, até os cancelamentos digitais de hoje — o padrão é o mesmo: a massa engole o indivíduo.
O QUE TE CONTROLA?
Wesley liga a TV, e seus batimentos aumentam automaticamente. Está tendo um surto de dengue em São Paulo. Imediatamente ele pensa: onde está o repelente? Será que existe alguma água parada por perto?
Seus pensamentos entram numa vibração baixa. Ele sente medo e perde a capacidade de questionar. Tudo que disserem para ele no trabalho, ele vai aceitar. Afinal, já está preocupado com contas, filhos, caos do mundo.
No fim da tarde, Wesley abre o reels para relaxar. O trabalho já o deixou cansado. Recebeu ordens o dia inteiro. Agora acha que é sua vez de comandar: pede um iFood para sentir que tem controle.
Cada segundo interagindo com coisas negativas reforça um viés: o viés da confirmação. As mídias só confirmam o que Wesley já acredita, formando uma bolha que aprova tudo ao redor. Isso o mantém com medo, burro, sedentário e perdido.
No outro dia, no trabalho, ele ouve os colegas reclamando. Todos cansados, pouca energia, com quatro horas de sono. O viés da confirmação aparece de novo. Por meia hora, Wesley se sente feliz, porque vê que não está sozinho na miséria. Ele se conforma. “A vida é isso: receber ordens, falar mal do chefe e pagar contas.”
À noite, vai para a faculdade. Lá, mais do mesmo: “a culpa é dos ricos”, “a culpa é do governo”, “vamos aproveitar que somos novos e usar drogas”, “o comunismo funciona”.
O ciclo continua: comida processada que gera letargia, álcool que rouba clareza, sono ruim que destrói o raciocínio, mídia que espalha medo, redes sociais que confirmam, faculdade que aliena.
Imagina se Wesley ousaria discordar? Imagina se dissesse “não” para os amigos num fim de semana? Imagina desligar a TV? Imagina desinstalar o Instagram? Imagina ler algo diferente?
Tudo isso coloca o ser humano numa engrenagem. Os influencers vazios reforçam isso mexendo com desejos primitivos: conforto, amor e status.
Lugares lindos. Relacionamentos perfeitos. Objetos caros. Consumimos indiretamente e sentimos uma falsa conquista.
Big Brother? Coliseu moderno. Futebol? A mesma distração coletiva. Fofocas, jogos, pornografia? Ferramentas para te manter distraído.
E como todo mundo faz, Wesley também faz. Esse é o viés da adesão: o medo de ser excluído.
O padrão se repete infinitamente: quanto mais consomem fofoca e celebridade, menos criam. O problema não é só o conteúdo — é a ausência de criação.
Sair disso é destruir a identidade medíocre. É matar aquilo que foi construído há anos.
É uma teia. É a matrix. É a morte lenta.
Mas eu saí disso. Vem comigo.
O RENASCIMENTO
O renascimento começa quando você ganha consciência disso.
Não é sobre aprender mais. É sobre desaprender. É deixar para trás crenças falsas sobre dinheiro, escola, faculdade, sociedade.
A teoria que mais carrego para manter meu ego calado é simples:
Se você se mantém parado, com as mesmas referências e as mesmas pessoas, nada muda. Pela lei da inércia, só quando uma força externa ou uma decisão interna rompe o repouso é que começa o verdadeiro renascimento.
A Originalidade nasce de novas experiências, de preconceitos rompidos, de ideias que desafiam.
Por que tantos músicos, artistas e escritores e empreendedores que criam grandes coisas parecem perturbados? Porque compartilham em suas obras sua dor, sua visão de mundo, sua autenticidade.
Seus pensamentos são a soma da sua estante. Se você só consome o superficial, vai pensar como todos. Se cava mais fundo — livros esquecidos, filmes antigos, podcasts raros — começa a formar algo único.
Não espere inspiração. Ela não vem sozinha. Você precisa buscá-la.
Remixe ideias com suas experiências, como um DJ que pega sons e cria algo novo.
Não espere. Comece hoje.
Henrique Bagetti
Trabalhe menos. Ganhe mais. Aproveite a vida.
Eu me aprofundo no potencial humano, no design de estilo de vida e nos negócios individuais para lhe dar uma maneira única e fácil de melhorar sua vida.